ESTUDOS EM HERMENÊUTICA BÍBLICA
Ou, Leis Básicas de Interpretação da
Bíblia
Pr. Davis W. Huckabee
Muitos dos números usados nas
Escrituras têm um significado e importância definidos, de modo que muitas vezes
o próprio número indicará o assunto geral do contexto em que é usado. Essa é só
mais uma das muitas provas infalíveis de que Deus não faz nada descuidadamente
ou por mero acaso, mas que tudo é feito de modo que fique em harmonia com o
grande e totalmente abrangente plano e programa de Deus.
Os números têm um grande significado,
não só nas Escrituras, mas em todas as áreas da vida humana, havendo uma
repetição coerente do mesmo número em várias áreas da natureza, cronologia,
química, música e outras áreas. E. W. Bullinger mostra isso em seu livro Number in Scripture(Número nas
Escrituras). Ele também observa o seguinte:
"Não podemos
ter nem palavras nem obras sem "número". A pergunta a que devemos
responder é: O número é usado com um propósito intencional ou por acaso"
Certamente, se Deus o usa deve ser com sabedoria infinita e com perfeição
gloriosa. E assim é. Cada número tem seu próprio significado; e seu sentido se
acha em harmonia e relação moral com o tema em conexão com o qual se mantém.
Essa harmonia é sempre perfeita. Cada palavra do Livro de Deus está em seu
lugar certo. Pode às vezes nos parecer um desarranjo. A fechadura pode estar
num lugar, e a chave pode às vezes estar escondida em outro lugar, em alguma
palavra ou sentença aparentemente sem propósito"The Word In Scripture (A
Palavra nas Escrituras), p. 21.
Se, pois, em nossa interpretação das
Escrituras, sempre tivermos em mente o significado de cada número, isso nos
ajudará a confirmar nossas interpretações. A numerologia das Escrituras não é
tanto para ser usada para interpretar as Escrituras, quanto para confirmar as
interpretações logo que tiverem sido feitas, utilizando-se as precedentes Leis
de Interpretação. Dizemos isso como um aviso, pois temos lido de alguns
indivíduos que se esforçaram para tornar a numerologia das Escrituras a única
regra para interpretar as Escrituras. Eles até tentaram determinar quais
versículos eram genuínos e quais eram adições ou alterações posteriores
examinando o valor numérico que até mesmo as letras têm. Mas isso é um engano
que levará a mais erros. Apesar disso, onde as Escrituras apresentam um número
definido, geralmente tem um significado definido como as próprias palavras têm.
Como ilustração do significado dos
números das Escrituras, citamos o uso do número quarenta. Quando aparece
sozinho é quase sempre usado de tal modo que está de alguma maneira relacionado
com um período de provação ou teste, depois do qual há julgamento ou aprovação.
Assim, houve chuva na terra por quarenta dias e quarenta noites antes que a
terra fosse finalmente destruída pelo dilúvio, Gênesis 7:4,12. E assim os
filhos de Israel comeram maná por quarenta dias no deserto, Êxodo 16:35. O
propósito expressamente declarado disso é provar se eles andariam de acordo com
as leis de Deus ou não, Êxodo 16:4. E assim Moisés esteve no monte com o Senhor
por quarenta dias e quarenta noites para testar os israelitas, se eles
obedeceriam a Deus conforme eles haviam dito que fariam, Êxodo 34:28 comparado
com Êxodo 19:5-8. Assim Jesus foi testado por quarenta dias e quarenta noites
no deserto antes de Ele entrar em Seu ministério, Mateus 4:2; Marcos 1:13;
Lucas 4:2. E assim Jesus foi visto pelos discípulos quarenta dias após a
ressurreição antes de Ele ser elevado ao céu, Atos 1:3. Essa característica
sobre esse número é tão comum nas Escrituras que há pouca necessidade de um
argumento para demonstrar esse fato.
Esse fato se mantém válido para muitos
outros números, embora aparentemente não para todos os números que aparecem na
Palavra de Deus. Ao menos alguns números não têm tal aparente significado como
outros têm. Os seguintes são alguns dos números mais comuns, e seu significado
habitual.
O número um é a unidade
principal usado na composição de todos os outros. É o número da unidade, e consequentemente
é associado à Divindade, pois Deus é uma unidade ao mesmo tempo em que Ele é
uma Trindade. Assim, as Escrituras declaram: "Ora, o medianeiro não o
é de um só, mas Deus é um". (Gálatas 3:20) "Porque há um só Deus, e um só Mediador
entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem,". (1 Timóteo 2:5)
Muitas vezes esse número é usado onde
se declara o pensamento da unidade como em Mateus 19:5-6: "E disse:
Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só
carne" Assim não são mais dois,
mas uma só carne...". "E no dia seguinte, pelejando
eles, [Moisés] foi por eles visto, e quis levá-los à paz, [à união, no
grego]". (Atos 7:26) "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um
Pastor".
(João 10:16) "Eu e o Pai somos um". (João
10:30) "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu
em ti; que também eles sejam um em nós, para
que o mundo creia que tu me enviaste". (João 17:21) "Mas o que se
ajunta com o Senhor é um mesmo espírito". (1
Coríntios 6:17) E muitas outras referências há que mostram o significado do
número um. Esse número é tal que não se pode
dividi-lo sem fragmentá-lo, de modo que deve significar unidade de algum tipo.
O número dois tem vários
significados relacionados, e esses foram tão bem explicados por A. W. Pink que
nada podemos fazer melhor do que citar suas palavras.
"O número
dois, em seus significados escriturísticos, trata da diferença ou divisão. Prova disso se
acha na primeira vez em que ocorre na Bíblia: o segundo dia de Gênesis 1
foi quando Deus dividiu as águas. Daí, dois é o número do testemunho, pois se o
testemunho de dois diferentes homens concordam, a verdade é
comprovada. Dois pois é o número de oposição. Um é o número de
unidade, mas dois faz entrar outro, que ou está de acordo com o primeiro ou se
opõe a ele. Daí, dois é também o número do contraste, consequentemente,
toda vez que achamos dois homens juntos nas Escrituras é, com rara exceção,
para o propósito de salientar a diferença que há entre
eles".Gleanings In Exodus (Ceifando em Êxodo), p. 8.
Algumas das muitas Escrituras que
comprovam essas coisas são as seguintes: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há
de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro".
(Mateus 6:24) "Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para
que pela
boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja
confirmada" Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra
acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos
céus". (Mateus 18:16, 19) "E na vossa lei está também escrito que o testemunho de
dois homens é verdadeiro". (João 8:17) "E, orando, disseram; Tu,
Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens
escolhido,". (Atos 1:24) "O que se entende por
alegoria; porque
estas são as duas alianças: uma, do monte Sinai, gerando filhos para a
servidão, que é Agar". (Gálatas 4:24)
O número três é o número da
manifestação, pois Deus se manifesta nas três Pessoas da Trindade. Pelo fato de
que esse número tem esse significado, é também o número da ressurreição, e
aparece nessa ligação mais do que em qualquer outra. A própria primeira vez em
que esse número aparece no Novo Testamento lida com isso. "Pois, como
Jonas esteve três dias e três noites no ventre da
baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da
terra". (Mateus 12:40) Que esse número é tanto o número da Deidade quanto
da ressurreição é revelado onde essas duas coisas são reunidas em Romanos 1:4:
"Declarado
Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos,
Jesus Cristo, nosso Senhor". Enquanto está ligado várias vezes ao
número dois, como em Mateus 18:16, é revelado que onde há duas testemunhas
testificando a verdade de um assunto, o três é um passo a mais. É uma
manifestação maior da verdade.
O número quatro está intimamente
ligado à terra, pois lemos acerca dos "quatro ventos", Marcos
13:27; Apocalipse 7:1, "os quatro cantos da terra", Apocalipse
7:1; 20:8; "os quatro confins da terra" Isaías 11:12.
Não só isso, mas até mesmo em nossas
conversas comuns, muitas vezes falamos das quatro estações, as quatro direções, os quatro elementos (quer dizer, terra,
ar, fogo e água) que no passado se cria constituíam toda a matéria. E muitos
outros tais empregos do número quatro que o associam com a terra. Assim, quatro
é associado com universalidade e abrangência. Deus fala dos quatro juízos sobre Israel em
Ezequiel 14:21, que eram abrangentes e universais sobre todo o Israel.
O número cinco é o número
associado com a graça, e muitas vezes tem esse significado nas Escrituras.
Assim, o número cinco é bem proeminente no Tabernáculo e seu sistema sacrificial,
pois esse número descrevia Cristo em Sua Pessoa e obra. Só para citar uma
ilustração disso, vemos que o altar de bronze média cinco cúbitos por cinco
cúbitos, Êxodo 27:1-2, que significaria que só pela graça o homem pode se
aproximar de Deus. Isso é exatamente o que foi operado na cruz, e quase todos
os tipologistas admitem que o altar de bronze tipificava a obra de Cristo na
cruz. Deus disse desse altar de bronze que "ali virei aos filhos de
Israel", Êxodo 29:43, que mostra que só Cristo é o caminho de aproximação
para o Pai, harmonizando com Efésios 2:5, 8: "Pela graça sois
salvos".
O número seis é o número do homem
nas Escrituras, pois o homem foi criado no sexto dia da semana da criação,
Gênesis 1:26-31. E de cada sete dias, seis dias foram dados ao homem, mas o
sétimo é reservado para o Senhor, Êxodo 20:9-11. Mas esse número não é
associado com o homem somente nas Escrituras, pois até mesmo homens mundanos
inconscientemente associam o número com o homem.
"Seis é o
número do homem. Foi no sexto dia que o homem foi criado (Gênesis 1:26, 31).
Seis dias são a duração do trabalho semanal do homem (Êxodo 20:9). É
impressionante como esse algarismo é proeminente na medida que o homem usa em
conexão com seu trabalho: cada um dos seguintes é um múltiplo de seis. Há doze
polegadas para o pé: dezoito para o cúbito: trinta e seis para a jarda. Assim é
também com a divisão do tempo do homem. O dia tem vinte e quatro horas, cada
uma dessas é composta de sessenta minutos, e esses de sessenta segundos. É
extraordinário que há só seis palavras na Bíblia
para designar o "homem" " quatro no hebraico e duas no grego.
Numa perfeita combinação, Aquele que tomou o lugar do homem pecador foi
crucificado na sexta hora (João 19:14)"" A. W. Pink, Gleanings In
Exodus (Ceifando em Êxodo), p. 222.
Não só isso, mas quando o Anticristo
entrar em cena, ele terá "o número de um homem", Apocalipse 13:18,
mas seu número é 666 " o número do homem levantado ao terceiro poder, pois
ele será um homem deificado. E há um quadro interessante do
homem natural que dá para se ver nas seis talhas em João 2:1-11, pois elas
estavam frias e vazias até que o poder do Mestre entrou no quadro. Quando, por
Sua ordem, elas foram cheias de água (que simboliza a Palavra de Deus, Efésios
5:26), a água foi miraculosamente transformada em vinho, e portanto
transformada em bênção, Salmo 104:15. E há outros simbolismos aqui também.
O número sete é o número da
perfeição divina, pois no sétimo dia Deus descansou de todas as Suas obras,
Gênesis 2:2. No Novo Testamento, esse número aparece mais vezes no Livro de
Apocalipse do que em todo o restante do Novo Testamento junto. E isso é como
deve ser, pois Apocalipse é o Livro final da Bíblia, e revela as obras finais
de Deus com a humanidade. Aí lemos de sete igrejas, sete espíritos de Deus,
sete candelabros de ouro, sete estrelas, sete selos, sete chifres, sete olhos,
sete anjos, sete trombetas, sete trovões, sete cabeças, sete últimas pragas,
sete frascos de ouro, sete montanhas, sete reis e sete novas coisas. Onde quer que
esse número apareça, o provável é que ele tenha um significado mais espiritual
do que quase qualquer outro número em toda a numerologia das Escrituras.
O número oito tem o significado
de novos começos, pois vem depois do sete, o número da perfeição. Foi no dia
depois do sábado "no oitavo dia, em outras palavras" que Jesus
ressuscitou dos mortos, Marcos 16:1-8, como foi tipificado em Levítico
23:10-11. E desde o tempo da ressurreição de Jesus em diante, Ele sempre se
encontrou com Seus discípulos no oitavo dia. Isso significava que o sábado
judaico tinha cessado de ser o dia de adoração, e que um novo começo havia
amanhecido, onde o oitavo dia "o domingo" seria daquele tempo em
diante o dia da adoração em comemoração à ressurreição de Jesus.
De novo, foi Noé, a oitava pessoa,
como ele é chamado em 2 Pedro 2:5, que repopulou a terra depois do dilúvio, e
assim, foi um novo começo da raça humana. Em Apocalipse 17:11 uma das bestas é
vista como uma vez um oitavo, mas um dos sete, que mostra que ela é apenas a forma
revivida de um dos reinos anteriores.
Finalmente, a própria eternidade, aliás,
será um oitavo depois de sete eras, ou dispensações, em que Deus lidou com a
humanidade, mas esse "novo começo" será uma era sem fim, a "era
das eras" como o texto grego a chama em vários lugares. Veja Efésios 3:21;
Filipenses 4:20; 1 Timóteo 1:17; Apocalipse 20:10, e outros.
O número nove não é tão
proeminente em linguagem simbólica como alguns dos números precedentes, e consequentemente,
não é tão fácil determinar seu sentido. É mais comumente usados como ordinal,
ou de alguma outra maneira com outros números. E. W. Bullinger diz sobre esse
número:
"O número nove é
um número muitíssimo extraordinário em muitos aspectos. É mantido em grande
reverência por todos os que estudam as ciências ocultas; e na ciência
matemática possui propriedades e poderes que não se encontram em nenhum outro
número. É o último dos dígitos, e assim marca o fim;
e tem o sentido da conclusão de um assunto. Está relacionado
ao número seis, seis sendo a soma de seus fatores (3 X 3 = 9, e 3 +
3 = 6), e assim tem o sentido do fim do homem, e a conclusão de
todas as obras do homem. Nove é, pois, O NÚMERO DA FINALIZAÇÃO
OU JUÍZO". " Number in Scripture (Número nas
Escrituras), p. 235.
O número dez, por outro lado,
tem o sentido claro de responsabilidade humana. Assim, temos os Dez
Mandamentos, que claramente apresentam o dever humano para com Deus e para com
o homem. Abraão suplicou com Deus em favor de Sodoma até que ele recebeu a
promessa de Deus de que até por causa de dez pessoas justas Ele não destruiria
a cidade. Pois Abraão sentiu que Ló teria sido responsável o suficiente para
que ao menos dez pessoas justas pudessem ser achadas em sua família apenas, se
não houvesse nenhuma outra na cidade, Gênesis 18:32. Comparando com Gênesis 19,
é evidente que Ló e sua esposa tinham duas filhas virgens, v. 8, além de pelo
menos duas filhas casadas e seus maridos (4 pessoas), v.14, além de pelo menos
dois filhos, v.12, de modo que isso totalizou pelo menos dez pessoas. Mas, que
tristeza, a maioria deles não eram justos como Abraão havia esperado, e como
era sua casa, Gênesis 18:19. E o testemunho de Ló foi tão indeciso que não
poderíamos saber que ele foi verdadeiramente salvo, a não ser pelo testemunho
de 2 Pedro 2:7-8.
E havia dez leprosos purificados, mas
só um retornou para dar graças a Deus, Lucas 17:12-18. Havia dez virgens
testadas pela vinda de Cristo, Mateus 25:1. Dez servos foram testados pelo seu
mestre quanto à sua fidelidade, Lucas 19:11-27. Havia dez pragas sobre o Egito
para testar a nação quanto à sua responsabilidade de obedecer ao mandamento de
Deus para liberar Israel.
O número onze é outro número que
não tem um significado tão claro como os outros, mas pode ser que seu sentido
simbólico esteja nos números cuja soma some até onze, como sugerem alguns. Em
Êxodo 26:9, as cortinas do Tabernáculo, sendo onze em número, são juntadas
cinco e seis à peça, que parece comprovar isso. Evidentemente, há um sentido
espiritual nesse número, pois é usado em vários contextos em referência à
construção do Tabernáculo, e também em algumas das ofertas.
Finalmente, doze é o número que é
associado ao Governo Divino, havendo doze tribos de Israel, sobre as quais doze
apóstolos deverão governar em doze tronos numa época futura. Esse número é bem
proeminente em Apocalipse, havendo doze mil selados de cada uma das doze tribos
de Israel, e havendo uma coroa de doze estrelas na cabeça da mulher, Apocalipse
12:1. E a Nova Jerusalém tem doze portões com doze anjos, doze fundamentos e
doze mil estádios de comprimento. Então a árvore da vida dá doze tipos de
frutos durante os doze meses de cada ano.
Há outros números que têm valor
simbólico na interpretação das Escrituras, mas o sentido de todos os outros
será determinado principalmente pelos sentidos combinados dos números dos que
são compostos. Essas coisas, se estudadas em conexão com as outras Leis de
Interpretação da Bíblia, têm considerável valor interpretativo, e não se pode
ignorá-las sem diminuir a eficiência da nossa interpretação.
Autor: Davis W.
Huckabee
Tradução: Júlio Severo
Revisão e Edição: Joy E Gardner e Calvin G Gardner
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
Boa tarde pastora Maria Valda!
ResponderExcluirPrazer em estar aqui de novo, no ano novo, lendo essas maravilhas e aprendendo mais um pouco, gosto de ler a Bíblia, mas a leio como leiga sem nenhuma religião, mesmo assim encontro sempre algo "direcionado a mim", sempre vivo feliz com fé na Vida e agradecendo ao Altíssimo!
Abraços e desejo-lhe um lindo ano, muita saúde e felicidade, que sei que terás!